terça-feira, 17 de outubro de 2006

"Eu não sei quem te perdeu..."

Quando veio,
Mostrou-me as mãos vazias,
As mãos como os meus dias,
Tão leves e banais.
E pediu-me
Que lhe levasse o medo,
Eu disse-lhe um segredo:
"Não partas nunca mais".

E dançou,
Rodou no chão molhado,
Num beijo apertado
De barco contra o cais.

E uma asa voa

A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu.

Abraçou-me

Como se abraça o tempo,
A vida num momento
Em gestos nunca iguais.
E parou,
Cantou contra o meu peito,
Num beijo imperfeito
Roubado nos umbrais.
E partiu,


Sem me dizer o nome,
Levando-me o perfume
De tantas noites mais.
E uma asa voa

A cada beijo teu,
Esta noite
Sou dono do céu,
E eu não sei quem te perdeu…

Pedro Abrunhosa


A música é para mim algo que me acompanha dia a dia, hora a hora, instante a instante, em momentos de alegria, em momentos de tristeza, uma espécie de confidente quando para isto não tenho por perto alguém que me possa escutar…
Esta é, sem dúvida, uma das letras que mais me marca muito pela mensagem que intensamente me transmite. Associo-a a palavras como “perda” ou “partida” de alguém. Alguém que fisicamente se vai da minha vida. E eu que ultimamente escrevo bastante sobre a ausência das pessoas que me são especiais, sinto cada vez mais que a distância dessas mesmas pessoas se torna também ela cada vez mais forte e forçosamente intensa ao ponto de me fazer realçar mais ainda a importância e o assumido valor que elas têm para mim, em cada momento da minha vida. Por isto, o meu verdadeiro amigo sabe que em qualquer instante, em cada momento, em cada circunstância, o mais pequeno que seja o espaço de tempo, eu estarei com ele, porque um dia ele pode partir e posteriormente voltar… Nessa altura eu estarei aqui para o receber de braços abertos, para o abraçar… porque para o verdadeiro amigo não preciso de marcar hora, nem momento… ele vem e eu receberei a sua amizade como recebo todos os dias os carinhos das pessoas que me são muito, muito especiais. Ele sabe isso e sabe também que sou talvez um Ser capaz de o surpreender em momentos que ele menos espera, em momentos que posso sentir que devo estar mais perto fisicamente dele, porque um amigo na verdade nunca está longe de mim. A sua essência acompanha-me sempre.
Por vezes, quando o meu amigo não se encontra fisicamente presente a meu lado sinto a necessidade de me deslocar até ele. Preciso de estar com ele. Até hoje já várias vezes acordei durante a noite e fui até junto de pessoas que me são deveras muito especiais, algumas das quais hoje já não tenho nem poderei mais ter fisicamente presentes na minha vida. Mas sei que estas pessoas ficaram felizes pelo meu gesto, gesto que considero ser capaz de ter com qualquer amigo especial que surja na minha vida. Tudo porque para mim, a amizade é uma das maravilhas mais maravilhosas que maravilhosamente tenho na minha vida, a par de várias outras maravilhas que também vão surgindo para mim, como o verdadeiro Amor que talvez já tenha tido, mas que não nego poder voltar a ter. O amigo é para mim muito, muito, mesmo muito… e como sempre digo: ele é parte da minha Felicidade…
Parece-me deveras importante reflectir sobre este belo conceito de amizade… sobre esta, para mim, sempre eterna maravilha…

1 comentário:

Gonçalo disse...

Recentemente escrevi um texto acerca desta música, associando-a às pessoas que não estão presentes fisicamente e que já dormem o sono da paz, estando sempre no meu coração.
Uma música que considero das mais bonitas que alguma vez se escreveram, talvez a mais bonita até ao momento, na minha opinião, e cantada por uma voz sensual que me aquece o coração sempre que a ouço. Pedro Abrunhosa dedicou-a ao irmão que faleceu, para mim esta música pode ser interpretada aos entes queridos falecidos (quando a ouço sinto-a mais assim), mas também pode ser sentida como a perda das pessoas interessantes que marcaram certos períodos da nossa vida e que deixaram de alimentar esses momentos, ou ainda, ser recordada como a música das pessoas distantes e tão próximas ao mesmo tempo...
De facto tudo o que queria numa amizade é a clonagem de mais pessoas como tu, és uma verdadeira referência no conceito de amizade, destacando-se a tua compreensão e entrega sem esperar nada em troca, que me surpreende no meio do egoísmo do mundo actual. Com mais pessoas como tu a palavra DAR era possível sem esperar pelo gesto RECEBER, era uma dádiva constante tornando o ambiente recheado de momentos fraternos. E acredito que seria difícil sentir a palavra PERDA, porque ninguém sabia o que perdia porque a alimentação da relação era constante.
Utopias à parte, ou talvez não, uma coisa é certa, eu sei quem te ganhou...Muito obrigado e continua assim:)