segunda-feira, 12 de março de 2007

Canção Do Mar...




Hoje acordei de uma forma diferente. Na Residência de estudante onde vivo, as limpezas aos quartos começam logo pela manhã. Eram 8 horas e 30 minutos e já se escutava o aspirador no corredor do 2º piso, por sinal, o piso em que me encontro. Claro que acordei assim, ao som do aspirador. No entanto, nem foi o aspirador que me despertou grande atenção naquele instante. Por momentos senti-me invadida por um som musical que me parecia vir do 1º piso. Pensei e parecia-me que provinha do quarto 109, pois é o quarto que se encontra por baixo do meu e de lá me perecia vir tal melodia. De momento fiquei sem me mexer na cama. Apenas fechei os olhos e sem movimentos, imaginei e recordei um momento que vivi, com aquela melodia que se aproximava ali de mim. Uma voz feminina, uma letra que me desperta atenção, todo um momento de reflexão e recordação. Era assim que me encontrava ali e naquele instante.
Tudo isto se passava ali, naquele pequeno meu Mundo. E eu que acabava ainda de acordar sentia-me imensamente bem apenas e somente em escutar aquela música. Ela fazia-me bem. E nem o barulho do aspirador me incomodou. Queria escutar e voltar a fazê-lo, tendo tempo para de uma ou outra forma voltar a viver momentos lindos que já vivi ao som da mesma música. Mas, ela terminava e em mim surgia o desejo de a voltar a escutar. Levantei-me, dirigi-me para a secretária, perto da janela, e ainda com os olhos meios fechados, levantei o estore que sem fendas, não deixava que a luz do dia que agora surgia invadisse aquele meu mundo ainda escuro. Voltei à secretária e liguei o computador. Enquanto este ligava, eu escutava vozes o corredor, passos de pessoas que provavelmente se dirigiam para a escola, para mais um dia de aulas. Entretanto, o aspirador calou-se, os passos tornaram-se mais suaves e eu dava por mim a procurar nas minhas músicas de eleição aquela com que acordara no ouvido. E ali estava eu… a música começava e eu sorria.
Imaginava e tinha em mente as imagens do meu 1º ano de curso. Lembro de na altura, a professora de expressão dramática ter sugerido a toda a turma a realização de uma coreografia para aquela música que no momento escutava. Recordo que na altura, a turma se mostrou um tanto ao quanto atrapalhada, até porque lhes parecia difícil conseguir uma coreografia para aquela música. Eu, e como sempre diferente, quis intervir e afirmei que podíamos tentar, até porque a letra da música poderia, sem dúvida, ajudar. Avançamos e andamos quase um mês à volta de ensaios, mas conseguimos com força de vontade e muito empenho realizar uma coreografia que me pareceu deveras interessante pela mensagem que a música nos transmitia. E de facto, assim foi, tanto que a docente nos deu um feedback bastante positivo.

Tínhamos acabado de realizar a nossa coreografia e a professora mostrou-se imensamente feliz porque tínhamos conseguido realizar algo do género do que ela pretendia. Sabemos que ficou feliz, mas mais ficamos nós, isto porque aquela linda música tinha entrado nos nossos ouvidos durante dias a fio, sempre depois das aulas escutamo-la e tentamos realizar algo prestável e que pudesse ser concretizável em qualquer contexto. Era bom ver que o nosso trabalho de um mês era agora ali aplaudido.

Eu e o meu grupo estávamos felizes porque víamos que o difícil tinha sido atingido. Estávamos perante algo que até nos tinha dado imenso prazer realizar.
Recordo-me de várias noites, por volta das 23 horas em que íamos para a escola e nos dirigia-mos cheios de materiais e acessórios para a sala de expressão dramática. Recordo os vários ensaios que fizemos. Recordo as muitas noites que no chão me enrolei num lençol azul e imitei as ondas e a sua passagem. Recordo, com saudade as remadas que fingi dar; o chamar de um familiar que estava indeciso entre o dever e a família. E porquê tudo isto? Eu explico: a música assim nos o pedia. E tendo em conta a letra da música decidimos precisamente fazer uma coreografia que se adequasse ao momento musical e como tal, decidimos em nós encontrar um marinheiro; quatro ondas que em determinados momentos se tornavam familiares do marinheiro e decidimos também vestir a pele de um diabo. Lembro que todos os passos da música foram por n õs delicadamente trabalhados e escolhidos, sendo que a nossa mensagem se orientava para a vida de um marinheiro que estava na dúvida entre o que deveria ou não fazer. Será que devia partir para o mar e ir em busca de sustento? Ou deveria ele ficar com a família e dar-lhe esse sustento de uma forma mais sofredora, sendo que para tal a fome se faria notar? Tentamos e penso que conseguimos com esta música retratar esta situação e de uma maneira geral, a letra e a coreografia se adequaram.

Hoje digo para mim, e à pouco quando fui à praia disse-o também: A Canção Do Mar, é uma daquelas que nos faz sonhar, viver, e recordar um passado que tenhamos vivido e de certa forma matar a saudade de um acto que nos possa ser desconhecido momentaneamente…